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JOHN HARPER – O ÚLTIMO HERÓI DO TITANIC
Enquanto
as águas escuras e geladas do Atlântico enchiam lentamente o convés
do Titanic, John Harper gritava: "Deixem as mulheres, crianças
e descrentes subirem nos barcos salva-vidas." Harper tirou seu
salva-vidas - a última esperança de sobrevivência - e o entregou a
outro homem. Depois que o navio desapareceu sob a água escura,
deixando Harper se debatendo nas águas geladas, ouviram-no
incentivando os que estavam à sua volta a confiar em Jesus Cristo.
Era
a noite de 14 de abril de 1912. uma noite de heróis, e John Harper
foi um deles. Apesar das águas que o tragavam serem extremamente
frias e do mar à sua volta estar escuro, John Harper deixou este
mundo numa resplandecente glória.
Os
atos de coragem de Harper foram espontâneos. Ele não tinha motivo
para imaginar que o Titanic afundaria, nem tempo para escrever um
roteiro. Uma revista comercial, The Shipbuilder, descreveu o Titanic
como "praticamente insubmergível". No dia 31 de maio de
1911, um empregado da Companhia de Construção Naval White Star
disse: "Nem mesmo o próprio Deus pode afundar esse navio".
O Titanic representava toda a segurança, elegância e confiança da
era vitoriana-edwardiana. A Associated Press era entusiasta do navio,
declarando: "Tudo que a riqueza e a habilidade modernas podiam
produzir estava incorporado no Titanic, o navio mais longo já
construído, com mais de 4 quadras de comprimento.., com acomodações
para uma tripulação de 860 pessoas e capacidade para 3.500
passageiros, ele foi construído com o mesmo cuidado dedicado aos
melhores cronômetros". A ostentação e o tamanho recorde do
Titanic impressionaram a era dourada da construção naval. Seus
motores de 50.000 HP que produziam a velocidade de 24 nós por hora
eram protegidos por dezesseis compartimentos estanques. Cada um era
protegido por estruturas de aço. Na época do seu lançamento, o
Titanic era o maior objeto móvel manufaturado do mundo. Depois de
fazer as duas primeiras paradas para passageiros e correio em
Cherbourg e Queenstown, Irlanda, os passageiros se sentiram ainda
mais seguros. Harper escreveu numa carta para seu amigo Charles
Livingstone antes de atracar em Queenstown, dizendo:
"Até agora a viagem é tudo que se pode desejar."
"Até agora a viagem é tudo que se pode desejar."
Às
11:40 da noite de 14 de abril de 1912, um iceberg rasgou o lado
estibordo do navio, jogando gelo por todo o convés e arrebentando
seis compartimentos estanques. O mar se infiltrou. A maioria dos
passageiros não acreditava que o Titanic afundaria até que a
tripulação começou a lançar foguetes de sinalização para o
alto. Charles Pellegrino disse: "A água brilhou por todos os
lados. Barcos salva-vidas podiam ser vistos nela... Naquele enorme
facho de luz artificial, as mentes também foram iluminadas. Todos
entenderam a mensagem dos foguetes por si próprios". Depois dos
foguetes, ninguém precisava ser convencido a entrar nos barcos
salva-vidas. De repente, quando a água alcançou a metade da ponte
de comando, um estrondo que parecia um milhão de pratos quebrando,
cortou a noite. Enquanto a popa do Titanic subia alto no céu para se
preparar para seu mergulho ao fundo do mar, um barulho terrível como
uma explosão abalou o ar da noite. Passageiros davam-se as mãos e
se jogavam na água. Às 2:20 da manhă o Titanic começou sua
descida lenta para o fundo do mar, deixando uma nuvem emergente de
fumaça e vapor acima do seu túmulo. Nas águas geladas do Atlântico
Norte, na calada da noite, o navio mais famoso do mundo terminou sua
primeira e última viagem, mas alcançou uma mística náutica que só
perde para a da arca de Noé. Tudo aconteceu tão rápido, que Harper
só pôde reagir. Sua reação deixou um exemplo histórico de
coragem e de fé. "Os heróis da humanidade", disse A. P
Stanley, "são como as montanhas, como os planaltos do mundo
moral". John Harper foi um desses heróis.
A
Parte Mais Difícil do Seu Heroísmo
Nunca
é fácil assumir tais ações heróicas, e para John Harper foi
excepcionalmente difícil. Sua filha pequena, Nana, estava viajando
com ele. Quatro anos antes, a mãe dela adoeceu e morreu. Agora,
Harper sabia, Nana ficaria órfã aos seis anos de idade.
Quando
o alarme indicou o fim do Titanic, Harper imediatamente entregou Nana
a um capitão do convés com ordens para colocá-la num barco
salva-vidas. Então ele saiu para socorrer os outros. Nana foi
resgatada e mandada de volta à Escócia, onde cresceu, casou-se com
um pastor, e dedicou toda a sua vida ao Senhor a quem seu pai tinha
servido.
Certa
vez, depois de Harper escapar por pouco de se afogar aos 26 anos, ele
disse: "O medo da morte não me preocupou em momento algum. Eu
acreditava que a morte súbita seria glória súbita, mas havia uma
menininha sem mãe em Glasgow". Agora, essa menininha ficaria
sem mãe e sem pai. Com certeza essa foi a parte mais difícil para
Harper.
O
Herói em Contraste
O
heroísmo altruísta desse escocês é acentuado pela conduta
contrastante de muitos colegas passageiros nessa viagem mortal.
Enquanto Harper entregava seu colete salva-vidas, um banqueiro
americano conseguiu colocar um cachorro de estimação num barco
salva-vidas, deixando 1.522 pessoas sem ajuda. Não havia um espírito
de "afundar com o navio". Dos 712 salvos, 189 eram,
inclusive, homens da tripulação. O coronel John Jacob Astor tentou
escapar com sua mulher num barco salva-vidas e foi detido pelo
segundo-oficial Charles Lightoller. Astor era o homem mais rico do
mundo, mas isso foi insuficiente para forçar a sua entrada num
simples barquinho salva-vidas. Daniel Buckley se disfarçou de mulher
na tentativa de conseguir um lugar no barco. Os passageiros da
primeira classe, no primeiro barco salva-vidas a ser baixado, se
recusaram a voltar e recolher pessoas que estavam se afogando, apesar
de haver espaço para muitos outros serem salvos. A Sra. Rosa Abbott,
a única mulher a afundar com o navio e sobreviver, disse que um
homem tentou subir nas suas costas forçando-a para baixo da água e
quase afogando-a.
O
Sr. Bruce Ismay, um dos donos do Titanic, diretor administrativo da
Companhia White Star e o responsável por não haver barcos
salva-vidas [suficientes] a bordo, tornou-se o marinheiro mais infame
desde o Capitão Bligh. Ele subiu num barco salva-vidas enquanto
centenas de mulheres permaneceram no navio condenado. O Capitão
Smith ordenou a seus homens: "Façam o melhor que puderem para
as mulheres e crianças, e cada um cuide de si". Ao mesmo tempo,
John Harper mandava os homens fazerem o que podiam para as mulheres e
crianças e cuidarem dos outros.