domingo, 18 de maio de 2014

GUIA PARA UMA ORAÇÃO FERVOROSA



Muito se tem escrito sobre o que é geralmente chamado de “a Oração do Senhor” (que eu prefiro denominar “a Oração Familiar”), e muito sobre a oração sacerdotal de Cristo em João 17; mas muito pouco sobre as orações dos apóstolos. Pessoalmente, não conheço nenhum livro devotado às orações apostólicas e, exceto por um livreto sobre as duas orações de Efésios 1 e 3, quase não há nenhuma exposição separada delas. Não é fácil explicar esta omissão. Poder-se-ia pensar que as orações apostólicas são tão cheias de doutrinas importantes e valores práticos para os fiéis que elas deveriam ter atraído a atenção daqueles que escrevem sobre temas devocionais.



Introdução


Embora muitos de nós depreciem muito os esforços daqueles que querem que creiamos que as orações do Antigo Testamento são obsoletas e inapropriadas para os santos da era do Evangelho, parece-me que até mesmo professores dispensacionalistas devem reconhecer e apreciar a peculiar propriedade para os cristãos das orações registradas nas Epístolas e no Livro de Apocalipse. Com exceção das orações de nosso Redentor, somente nas orações apostólicas os louvores e as petições são especificamente dirigidas ao “Pai”. De todas as orações da Escritura, somente estas são oferecidas em nome do Mediador. Além disso, somente nestas orações apostólicas encontramos as plenas respirações do Espírito de adoção.


Que benção é ouvir um santo idoso, que andou por muito tempo com Deus e desfrutou de íntima comunhão com Ele, derramar seu coração diante do Senhor em adoração e súplica. Mas quanto mais abençoados teríamos nos considerado se tivéssemos o privilégio de ouvir os louvores e apelos a Deus daqueles que haviam acompanhado Cristo durante os dias do Seu tabernacular entre os homens! E, se um dos apóstolos ainda estivesse aqui na terra, que grande privilégio consideraríamos ouvi-lo engajado em oração! Tão elevado, penso eu, que a maioria de nós estaria bem disposto a sofrer considerável inconveniência e a viajar por longa distância a fim de ser assim favorecido. E, se o nosso desejo fosse atendido, quão de perto ouviríamos às suas palavras, quão diligentemente procuraríamos entesourá-las em nossas memórias. Bem, nem tal inconveniência, nem tal jornada são necessárias. Aprouve ao Espírito Santo registrar certo número de orações apostólicas para a nossa instrução e satisfação. Será que evidenciamos nossa apreciação por tal dádiva? Será que já fizemos uma lista delas e meditamos sobre a sua importância?

Nenhuma Oração Apostólica em Atos



Na minha tarefa preliminar de examinar e catalogar as orações dos apóstolos registradas, duas coisas me impressionaram. A primeira observação veio como uma surpresa total, enquanto a segunda era totalmente esperada. O que pode nos impressionar como algo estranho – para alguns de meus leitores pode ser quase alarmante – é isto: o Livro de Atos, que fornece a maior parte da informação que possuímos a respeito dos apóstolos, não possui uma única oração deles em seus vinte e oito capítulos. Contudo, uma breve reflexão deve nos mostrar que esta omissão está em pleno acordo com o caráter especial do livro; pois Atos é muito mais histórico que devocional, consistindo mais em uma crônica do que o Espírito operou através dos apóstolos do que neles. Os feitos públicos dos embaixadores de Cristo são ali mais proeminentes do que seus exercícios privados. Certamente eles são apresentados como homens de oração, como se vê pelas suas próprias palavras: “Mas nós perseveraremos na oração, e no ministério da palavra” (At 6:4). Repetidamente os contemplamos engajados neste santo exercício (At 9:40; 10:9; 20:36; 21:5; 28:8), contudo não somos informados acerca do que diziam. O mais perto que Lucas chega de registrar palavras claramente atribuíveis aos apóstolos é em Atos 8:14, 15, mas até mesmo ai ele meramente nos dá a quintessência daquilo por que Pedro e João oraram. Considero a oração de Atos 1:24 como sendo dos 120 discípulos. A grande, a eficaz oração registrada em Atos 4:24-30 não é de Pedro e João, mas de toda a companhia (v. 23) que havia se reunido para ouvir o relato deles.

Paulo, um Exemplo na Oração



A segunda característica que me impressionou enquanto contemplava o tema que está prestes a nos envolver foi que a grande maioria das orações dos apóstolos registradas saíram do coração de Paulo. E isto, conforme dissemos, devia realmente ser esperado. Se alguém perguntasse por que isto é assim, várias razões poderiam ser dadas em resposta. Primeiro, Paulo foi, preeminentemente, o apóstolo dos gentios. Pedro, Tiago e João ministraram principalmente aos crentes judeus (Gálatas 2:9), os quais, mesmo em seus dias de inconversos, já estavam acostumados a curvar os joelhos diante do Senhor. Mas os gentios haviam saído do paganismo, e era apropriado que o pai espiritual deles também fosse seu exemplo devocional. Além disso, Paulo escreveu duas vezes mais epístolas inspiradas por Deus do que todos os outros apóstolos juntos, e ele deu expressão a oito vezes mais orações em suas Epístolas do que o restante em todas as suas outras. Mas trazemos especialmente à lembrança a primeira coisa que nosso Senhor disse acerca de Paulo após sua conversão: “eis que está orando” (At 9:11, itálicos meus). O Senhor Cristo estava, por assim dizer, dando a nota principal da subseqüente vida de Paulo, pois ele devia ser eminentemente distinguido como um homem de oração.


Não que os outros apóstolos estivessem vazios deste espírito. Pois Deus não emprega ministros negligentes na oração, visto que Ele não tem filhos mudos. “Clam[ar] a ele de dia e de noite” é apresentado por Cristo como uma das marcas distintivas dos eleitos de Deus (Lc 18:7, colchetes meus). Contudo, alguns dos Seus servos e alguns dos Seus santos têm permissão para desfrutar de mais próxima e mais constante comunhão com o Senhor do que outros, e tal era obviamente o caso (com exceção de João) com o homem que em certa ocasião foi até mesmo arrebatado ao Paraíso (2 Co 12:1-5). Uma medida extraordinária do “espírito de graça e de súplicas” (Zc 12:10) foi-lhe outorgada, de modo que ele parece ter sido ungido com aquele espírito de oração acima até dos seus companheiros apóstolos. Tal era o fervor do seu amor por Cristo e pelos membros do Seu Corpo místico, tal era a sua intensa solicitude pelo bem-estar e crescimento espiritual deles, que continuamente brotava de sua alma uma torrente de oração a Deus e de ação de graças em seu favor.

O Amplo Espectro da Oração



Antes de seguirmos adiante, deve-se assinalar que nesta série de estudos não proponho me confinar às orações petitórias dos apóstolos, mas antes tratar de uma variedade mais ampla. Na Escritura, oração inclui muito mais do que meramente tornar nossas petições conhecidas a Deus. Precisamos ser lembrados disto. Ademais, nós crentes precisamos ser instruídos em todos os aspectos da oração em uma época caracterizada pela superficialidade e ignorância da religião revelada por Deus. Uma Escritura chave que nos apresenta o privilégio de manifestar nossas necessidades diante do Senhor enfatiza isto mesmo: “Não estejais inquietos por coisa alguma; antes as vossas petições sejam em tudo conhecidas diante de Deus pela oração e súplica, com ação de graças” (Fp 4:6; itálicos meus). A menos que expressemos gratidão pelas misericórdias já recebidas e demos graças ao nosso Pai por Ele nos conceder o favor contínuo de pedirmos a Ele, como podemos esperar ganhar o Seu ouvido e assim receber respostas de paz? Contudo, a oração, em seu sentido mais completo e elevado, vai além de ações de graças por dons concedidos: o coração é levado a contemplar o Próprio Doador, de modo que a alma se prostra diante dEle em culto e adoração.


Embora não devamos digressionar de nosso tema imediato e entrar no tema da oração em geral, deve-se assinalar que existe ainda outro aspecto que deveria ter precedência sobre a ação de graças e a petição, a saber, o aborrecimento próprio e a confissão de nossa própria indignidade e pecaminosidade. A alma deve lembrar-se solenemente de Quem é que ela se aproxima, ou seja, do Altíssimo, diante de quem os próprios serafins escondem seus rostos (Is 6:2). Embora a graça divina tenha tornado o cristão um filho, ele ainda é uma criatura, e como tal está a uma distância infinita e inconcebivelmente abaixo do Criador. Não é mais que apropriado que ele deva sentir profundamente esta distância entre si mesmo e seu Criador e reconhecer isto tomando o seu lugar no pó diante de Deus. Ademais, precisamos nos lembrar do que somos por natureza: não meramente criaturas, mas criaturas pecaminosas. Assim é preciso haver tanto um senso como um reconhecimento disto quando nos curvamos diante do Santo. Somente deste modo podemos, com algum sentido e realidade, pleitear a mediação e os méritos de Cristo como o fundamento de nossa aproximação.


Assim, falando genericamente, a oração inclui a confissão de pecado, petições pelo suprimento de nossas necessidades, e a homenagem de nossos corações ao Próprio Doador. Ou, podemos dizer que os ramos principais da oração são a humilhação, a súplica e a adoração. Por isso esperamos abranger dentro do escopo desta série não apenas passagens como Efésios 1:16-19 e 3:14-21, mas também versos singulares como 2 Coríntios 1:3 e Efésios 1:3. Que a cláusula “bendito seja Deus” é em si uma forma de oração fica evidente pelo Salmo 100:4: “Entrai pelas portas dele com gratidão, e em seus átrios com louvor; louvai-o, e bendizei o seu nome”. Outras referências poderiam ser dadas, mas que isto baste. O incenso que era oferecido no tabernáculo e no templo consistia de diversas especiarias combinadas (Êx 30:34, 35), e era a mistura de uma com a outra que tornava o perfume tão aromático e refrescante. O incenso era um tipo da intercessão de nosso grande Sumo Sacerdote (Ap 8:3, 4) e das orações dos santos (Ml 1:11). De modo semelhante deve haver uma mistura proporcional de humilhação, súplica e adoração em nossas aproximações do trono da graça; não de uma à exclusão das outras, mas uma combinação de todas elas.

Oração, um Dever Primário dos Ministros



O fato de tantas orações serem encontradas nas Epístolas do Novo Testamento chama a atenção para um aspecto importante do dever ministerial. As obrigações do pregador não estão plenamente cumpridas quando ele deixa o púlpito, pois ele precisa regar a semente que semeou. Em benefício dos pregadores novos, permita-me ampliar um pouco este ponto. Já foi visto que os apóstolos se devotavam “continuamente à oração, e ao ministério da palavra” (At 6:4), e através disso deixaram um excelente exemplo a ser observado por todos os que os seguem na vocação sagrada. Observe a ordem apostólica; porém, não apenas a observe, mas dê atenção e pratique-a. O sermão mais laboriosa e cuidadosamente preparado poderá cair sem unção sobre os ouvintes, a menos que tenha nascido do trabalho da alma diante de Deus. A menos que o sermão seja produto de diligente oração, não devemos esperar que desperte o espírito de oração naqueles que o ouvirem. Como foi assinalado, Paulo misturava súplicas com as suas instruções. É nosso privilégio e dever retirarmo-nos para o lugar secreto após deixarmos o púlpito, ali pedindo a Deus para escrever Suas Palavras nos corações daqueles que nos ouviram, para impedir o inimigo de arrebatar a semente, e para assim abençoar os nossos esforços para que dêem fruto para o Seu eterno louvor.


Lutero costumava dizer: “Há três coisas que fazem um pregador bem sucedido: súplica, meditação e tribulação”. Não sei que elaboração fez o grande Reformador. Mas suponho que ele queria dizer isto: que a oração é necessária para trazer o pregador a um plano apropriado para tratar de coisas divinas e para dotá-lo de poder divino; que a meditação na Palavra é essencial a fim de supri-lo de material para a sua mensagem; e que a tribulação é necessária como lastro para o seu navio, pois o ministro do Evangelho precisa de provas para mantê-lo humilde, assim como o Apóstolo Paulo recebeu um espinho na carne para que não se exaltasse indevidamente pela abundância das revelações concedidas a ele. Oração é o meio designado para receber as comunicações espirituais para a instrução de nosso povo. Devemos estar bastante com Deus antes de podermos estar aptos a ir e falar em Seu nome. Paulo, ao concluir sua Epístola aos Colossenses, informa-os acerca das fiéis intercessões de Epafras, um de seus ministros, que estava longe de casa visitando Paulo. “Saúda-vos Epafras, que é dos vossos, servo de Cristo, combatendo sempre por vós em orações, para que vos conserveis firmes, perfeitos e consumados em toda a vontade de Deus. Pois eu lhe dou testemunho de que tem grande zelo por vós..." (Cl 4:12, 13a). Será que tal recomendação acerca de você poderia ser feita à sua congregação?

Oração, um Dever Universal Entre os Fiéis



Mas que não se pense que esta nítida ênfase das Epístolas indica um dever para os pregadores somente. Longe disto. Estas Epístolas são endereçadas aos filhos de Deus em geral, e tudo nelas tanto é necessário como apropriado para a sua caminhada cristã. Os fiéis também devem orar muito, não apenas por si mesmos, mas por todos os seus irmãos e irmãs em Cristo. Devemos orar deliberadamente de acordo com estes modelos apostólicos, pedindo as bênçãos particulares que especificam. De longo tempo me convenci de que não há melhor modo – nem modo mais prático, valioso e eficaz – de expressar solicitude e afeição pelos nossos santos irmãos do que trazendo-os diante de Deus pela oração nos braços de nossa fé e amor.


Estudando estas orações nas Epístolas e ponderando-as cláusula por cláusula, podemos aprender mais claramente que bênçãos deveríamos desejar para nós e para os outros, ou seja, os dons espirituais e graças pelos quais temos grande necessidade de sermos solícitos. O fato de que estas orações, inspiradas pelo Espírito Santo, tenham sido colocadas em registro permanente no Sagrado Volume declara que os favores particulares buscados aqui são aqueles que Deus nos concedeu a garantia de buscarmos e de obtermos dEle (Rm 8:26, 27; 1 Jo 5:14, 15).

Os Cristãos Devem se Dirigir a Deus como Pai



Concluiremos estas observações gerais e preliminares chamando a atenção para algumas das características mais definidas das orações apostólicas. Observe, então, a Quem estas orações são dirigidas. Embora não haja uma uniformidade rígida de expressão, e sim antes uma variedade apropriada neste particular, a maneira mais freqüente em que a Divindade é tratada é como Pai: “o Pai das misericórdias” (2 Co 1:3); “o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 1:3; 1 Pe 1:3); “o Pai da glória” (Ef 1:17); “o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 3:14). Nesta linguagem vemos clara evidência de como os santos apóstolos tiveram cuidado com a injunção de seu Mestre. Pois quando Lhe fizeram o pedido, dizendo, “Senhor, ensina-nos a orar”, Ele respondeu assim: “Quando orardes, dizei: Pai nosso, que estás nos céus” (Lc 11:1, 2, itálicos meus). Isto Ele também lhes ensinou por meio do exemplo, em João 17:1, 5, 11, 21, 24 e 25. Tanto a instrução como o exemplo de Cristo foram registrados para o nosso aprendizado. Não somos relapsos acerca de quantos ilegítima e levianamente se têm dirigido a Deus como “Pai”, embora seu abuso não autorize a nossa negligência em reconhecer este bendito relacionamento. Nada é mais calculado para aquecer o coração e dar liberdade de expressão do que a percepção de que estamos nos aproximando de nosso Pai. Se recebemos, de verdade, “o Espírito de adoção” (Rm 8:15), não O extingamos, mas pelas Suas instigações clamemos: “Aba, Pai”.

A Natureza Breve e Definida da Oração Apostólica



A seguir, notamos sua brevidade. As orações dos apóstolos são breves. Não algumas, nem mesmo a maioria, mas todas elas são extremamente breves, a maioria delas contidas em apenas um ou dois versos, e a mais longa em apenas sete versos. Como isto censura as orações extensas, sem vida e fastidiosas de muitos púlpitos. Orações prolixas são geralmente ruidosas. Cito novamente Martinho Lutero, desta vez a partir dos seus comentários sobre a oração do Senhor, dirigidos a simples leigos:


Quando orares, que as tuas palavras sejam poucas, mas teus pensamentos e afeições muitos e, acima de tudo, que sejam profundos. Quanto menos falares melhor oras. ... A oração exterior e corporal é aquele sussurrar dos lábios, aquele balbucio exterior que passa sem nenhuma atenção, e que alcança os ouvidos dos homens; mas a oração em espírito e em verdade é o desejo, os movimentos, os suspiros interiores que surgem das profundezas do coração. A primeira é a oração dos hipócritas e de todos os que confiam em si mesmos: a última é a oração dos filhos de Deus, que andam em Seu temor.


Observe, também, a sua natureza definida. Ainda que extremamente breves, suas orações são muito explícitas. Não havia nenhuma desconexão vaga ou mera generalização, mas pedidos específicos por coisas definidas. Quanto fracasso existe neste ponto. Quantas orações já ouvimos que eram tão incoerentes e sem objetivo, tão carentes de razão e unidade, que quando se chegava no Amém mal podíamos nos lembrar de uma coisa pela qual se dera graças ou se fizera pedido! Apenas uma impressão turva permanecia na mente, e um sentimento de que o suplicante havia se engajado mais em uma forma de pregação indireta do que em oração direta. Mas examine qualquer uma das orações dos apóstolos e ficará claro, num piscar de olhos, que elas são como as de seu Mestre em Mateus 6:9-13 e João 17, compostas de adorações definitivas e petições nitidamente definidas. Não há nem moralismos nem expressão de banalidades piedosas, mas um manifestar diante de Deus de certas necessidades e uma simples petição pelo suprimento delas.

O Fardo e a Catolicidade das Orações dos Apóstolos



Considere também o fardo delas. Nas orações apostólicas registradas não há súplicas a Deus pelo suprimento de necessidades temporais e (sem uma única exceção) nem pedidos para que Ele se interponha em seu favor de um modo providencial (embora petições por estas coisas sejam legítimas quando mantidas na proporção apropriada às necessidades espirituais). Ao invés disso, as coisas pedidas são de natureza totalmente graciosa e espiritual: para que o Pai nos dê o espírito de entendimento e revelação no conhecimento de Si mesmo, os olhos de nosso entendimento sendo iluminados para que saibamos qual é a esperança do Seu chamado, as riquezas da glória da Sua herança nos santos, e a excedente grandeza do Seu poder para conosco, os que cremos (Ef 1:17-19); que Ele nos conceda, segundo as riquezas da Sua glória, que sejamos fortalecidos com poder pelo Seu Espírito no homem interior, para que Cristo habite em nossos corações pela fé, para que conheçamos o amor de Cristo que excede todo o entendimento, e sejamos cheios de toda a plenitude de Deus (Ef 3:16-19); para que o nosso amor abunde cada vez mais, para que sejamos sinceros e sem escândalo, e sejamos cheios dos frutos de justiça (Fp 1:9-11); para que andemos dignos do Senhor agradando em tudo (Cl 1:10); para que sejamos em tudo santificados (1 Ts 5:23).


Note também a catolicidade delas. Não que seja mais errado ou não-espiritual orar individualmente por nós mesmos, do que é suplicar por misericórdias providenciais e temporais; refiro-me antes a dirigir a atenção para onde os apóstolos colocavam a ênfase deles. Apenas em uma encontramos Paulo orando por si mesmo, e raramente por indivíduos particulares (como se espera de orações que fazem parte do registro público da Sagrada Escritura, embora sem dúvida ele tenha orado muito em segredo por indivíduos). Seu costume geral era orar por toda a família da fé. Nisto ele adere estritamente à oração padrão entregue a nós por Cristo, na qual gosto de pensar como sendo a Oração Familiar. Todos os seus pronomes estão no plural: “Pai nosso”, “nos dá” (não apenas “me”), “perdoa-nos”, e assim por diante. Em consonância com isto, encontramos o Apóstolo Paulo exortando-nos a fazer “súplica por todos os santos” (Ef 6:18, itálicos meus), e em suas orações ele nos apresenta um exemplo disto mesmo. Ele pleiteava com o Pai para que a igreja efésia pudesse “compreender, com todos os santos, qual seja a largura, e o comprimento, e a altura, e a profundidade, e conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento” (Ef 3:18; itálicos meus). Que corretivo para o egocentrismo! Se estou orando por “todos os santos”, incluo a mim mesmo.

Uma Omissão Surpreendente



Finalmente, permita-me assinalar uma omissão surpreendente. Se todas as orações apostólicas forem lidas atentamente, descobrir-se-á que em nenhuma delas é dado lugar algum àquilo que ocupa tanta proeminência nas orações dos arminianos. Nem uma vez encontramos pedido a Deus para salvar o mundo em geral, ou para derramar o Seu Espírito sobre toda a carne sem exceção. Os apóstolos nem mesmo oraram pela conversão de uma cidade inteira em que uma igreja cristã particular estivesse localizada. Nisto eles novamente se conformaram com o exemplo definido para eles por Cristo: “Não oro pelo mundo”, disse Ele, “mas por aqueles que me deste” (Jo 17:9). Caso se objete que o Senhor Jesus estava orando ali apenas pelos Seus apóstolos e discípulos imediatos, a resposta é que, quando Ele estendeu Sua oração para além deles, não foi pelo mundo que Ele orou, mas apenas pelo Seu povo fiel até o fim dos tempos (vede Jo 17:20, 21). É verdade que Paulo ensina “que súplicas, orações, intercessões, e ações de graças, sejam feitas por tod[as as classes de] homens; por reis, e por todos os que estão em eminência” (1 Tm 2:1, 2a, colchetes meus) – em cujo dever muitos são lamentavelmente remissos – porém não é pela sua salvação, mas “para que nóstenhamos uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (v. 2b, itálicos meus). Há muito a se aprender com as orações dos apóstolos.

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